Quando a curiosidade machuca mais do que ajuda
Vivemos em uma sociedade que, muitas vezes, normaliza perguntas invasivas disfarçadas de interesse ou gentileza:
“E o namorado?”
“Vai casar quando?”
“E o bebê, vem quando?”
Frases aparentemente inofensivas, que escorregam nas conversas como quem não quer nada, mas podem tocar em feridas profundas. Por trás dessas perguntas, pode haver um campo minado de sentimentos, silêncios e histórias que não estão à disposição pública.
No mês de maio, especialmente na semana que antecede o Dia das Mães, esse tipo de abordagem pode ser ainda mais dolorosa.
Para muitas mulheres que desejam ser mães e enfrentam dificuldades para engravidar, essa data, que para alguns é de festa, carinho e homenagem, pode ser como um lembrete cruel. Um simples “Feliz Dia das Mães” pode ecoar como ausência, luto, expectativas frustradas e um sonho que parece cada vez mais distante.
O impacto invisível das perguntas visíveis
É preciso lembrar que nem toda dor é visível. Ao perguntar “Você ainda não tem filhos?”, você pode estar cutucando uma ferida aberta. Pode ser que aquela mulher esteja enfrentando um tratamento de fertilidade doloroso, tenha passado por perdas gestacionais ou, simplesmente, ainda não esteja pronta para falar sobre o assunto. A pergunta, por mais educada que pareça, pode escancarar um sofrimento que ela estava tentando amenizar naquele dia.
Será que aquela pergunta casual… precisava mesmo ser feita?
Será que não há outras formas de demonstrar interesse sem invadir?
Certos assuntos não cabem em qualquer conversa
É senso comum, especialmente em ambientes profissionais, evitar três temas em reuniões com desconhecidos: religião, futebol e política. Isso porque são tópicos que envolvem paixões, crenças profundas e, muitas vezes, podem gerar atritos ou desconfortos desnecessários.
Da mesma forma, é importante reconhecer que existem perguntas que não deveriam ser feitas de forma tão aberta, como “Você não vai ter filhos?” ou “Quando vem o bebê?”, porque carregam consigo um potencial emocional imenso. Essas perguntas podem, sem querer, abrir portas para histórias dolorosas, traumas ou feridas ainda não cicatrizadas. E isso não significa que o tema seja proibido, significa apenas que ele deve ser tratado com o devido respeito, empatia e, principalmente, permissão.
O exemplo das marcas na pandemia
Durante o auge da pandemia de COVID-19, vimos empresas adotando uma prática simples, porém poderosa: antes de enviar comunicações relacionadas ao Dia das Mães ou Dia dos Pais, perguntavam se os clientes gostariam de receber aquelas mensagens.
Muitas pessoas tinham perdido entes queridos recentemente e estavam vivendo o luto. Ao oferecer essa opção, essas marcas demonstraram um nível raro de empatia, entenderam que, por trás de cada e-mail ou campanha de marketing, havia uma pessoa real, com uma história única e sentimentos legítimos.
Essa ação simples nos ensinou uma grande lição: a empatia começa antes da fala, começa na escuta, ou melhor, na disposição de não presumir o que o outro quer ou pode ouvir.

A empatia é a nova etiqueta
Estamos vivendo uma era em que consciência e empatia devem andar lado a lado com educação. Assim como aprendemos a dizer “por favor” e “obrigado”, também precisamos aprender a não perguntar o que não nos foi compartilhado.E se você realmente se importa com a pessoa à sua frente, talvez a melhor pergunta seja:
“Você quer conversar sobre isso?”
Ou até mesmo: “Quer um abraço?”
A mudança começa no cotidiano
Não é sobre censurar os sentimentos. É sobre saber o momento e o lugar. Antes de perguntar, pense: essa pergunta é realmente necessária? É minha a responsabilidade de abordar esse tema? A pessoa está abrindo espaço para isso?
Num mundo que já exige tanto, oferecer menos julgamento e mais presença pode ser um verdadeiro ato de amor.
Especialmente em datas como o Dia das Mães, esse cuidado pode ser um presente invisível, mas profundamente valioso para quem ainda espera, sonha ou simplesmente precisa ser respeitada em seu silêncio.
Porque às vezes, a maior forma de carinho é saber calar e apenas estar ali, inteiro, presente e empático.
Se você está no caminho da maternidade, seja ele feito de esperas, tentativas, pausas ou recomeços, o Programa Fertiliza foi criado para te acolher.
Aqui, você encontra apoio, práticas terapêuticas e um espaço seguro para cuidar das suas emoções, da sua energia e da sua história, no seu tempo.
Porque seu corpo não é uma máquina, e seu coração merece ser escutado com carinho.